Bocage
SINOPSE OFICIAL: Em 1789, Bocage desembarca em Lisboa depois de uma passagem conturbada por Goa e Macau. A capital do reino está efervescente com o vendaval da revolução francesa que o Intendente Pina Manique tenta a todo o custo travar com uma repressão feroz ao comércio de livros proibidos, às sociedades secretas como a maçonaria e a tudo o que considera que ponha em causa a ordem estabelecida. É uma época de tumulto e de transição: na política, com a queda sucessiva das monarquias absolutistas e o avanço das ideias iluministas; na poesia, com o auge do estilo neoclássico e o anúncio do romantismo de que Bocage é precursor.
Bocage integra-se rapidamente na vida mundana e literária: em pouco tempo dá-se com muitas figuras marcantes do seu tempo, desde a futura Marquesa de Alorna à Rainha D. Maria I. A sua porta de entrada para os salões são as tabernas e os bordéis: aí reencontra vários amigos que cá deixou, como o Padre Agostinho Macedo e os irmãos Bersane, personagens que admiram genuinamente o talento de Bocage na mesma medida em que desejam explorá-lo. Poucos meses depois de ter chegado a Lisboa, Bocage entra em glória na Nova Arcádia, uma sociedade literária repleta de génios autoproclamados e plagiadores com quem se irá rapidamente incompatibilizar, ganhando ódios que o acompanharão para o resto da vida como o do Padre Domingos Caldas e, principalmente, do próprio Agostinho Macedo que não hesita em crucificá-lo às mãos do Intendente.
Bocage adapta-se rapidamente à vida na capital, vivendo de pequenos estratagemas que lhe garantem as refeições e as primeiras necessidades. As mulheres dos seus sonetos cruzam-se com ele: de Gertrúria, Marília, da bela Manteigui e das duas filhas e da própria esposa do amigo António Bersane, à prostituta Nise com quem vive um amor que Pina Manique tornará impossível da forma mais cruel.
O Intendente identifica Bocage com todas as ideias que deseja perseguir e faz dele um exemplo para todos aqueles que afrontam a sua autoridade. Por causa de uma denúncia, durante três anos, Bocage irá passar por vários juízos: do Estado, da censura e do Santo Ofício. Entre a prisão do Limoeiro e o hospício da inquisição, sai “reeducado” e aparentemente desiludido com os desenvolvimentos da revolução em França, onde Napoleão toma o poder e ameaça invadir Portugal. Paradoxalmente, é o período de maior êxito, tanto nas elites como nos analfabetos apreciadores das modinhas fáceis de Domingos Caldas, do poeta “Magro, de olhos azuis, carão moreno, / Bem servido de pés, meão na altura, / Triste de facha, o mesmo de figura”.