Bola ao Centro
Zé António é, desde garoto, um entusiasta do futebol e, já homem, ambiciona ingressar num clube em voga, contrariamente aos desejos dos pais que para ele ambicionavam uma outra profissão. Na posse de um atestado médico falsificado, por iniciativa dum adepto de determinado clube, é, pode dizer-se, forçado a praticar como que inconscientemente um desporto, sem dúvida violento, em especial para quem, como é o seu caso, não possui as indispensáveis condições físicas. Por essa miragem abandona tudo e todos, desde o emprego até ao lar e à família e mesmo ainda a própria noiva, tocado pelo deslumbramento fortuito de um êxito num jogo importante e pelos falsos amigos e companheiros, alguns deles com funções importantes e decisivas no seu próprio clube, a par da influência de uma mulher ambiciosa e calculista. Mas tardes menos felizes em jogos de campeonato levam irresponsavelmente à ruína física e moral o jogador enganosamente convicto que tudo seriam rosas fáceis de colher. A massa associativa e alguns dos próprios dirigentes e responsáveis pelo seu clube desinteressam-se dele. Por fim regressa amargurado, vencido e humilhado, para junto dos pais, da noiva que o não esquecera, continuando, porém, a ter a amizade sincera e desinteressada de um modesto mecânico de automóveis. E, por fim, consegue um emprego incaracterístico, como factor dos caminhos de ferro, completamente ignorado pela multidão que antes o aplaudira e que agora passara a apoiar entusiasticamente novos ídolos da bola. (in «Filmes, Figuras e Factos da História do Cinema Português 1896-1949» de M. Félix Ribeiro – adaptado)