O Incendiário
SINOPSE OFICIAL: O Chico sai da cadeia. Na véspera ardeu o Pinhal dos Nove. Regressa à terra onde imagina a namorada a preparar-lhe a ceia. Ao passar pelo rio da sua infância, mergulha e recorda a história da sua origem, contada pela Chibinha: ‘que o encontra no palheiro’.
A Chibinha criara-o no trabalho e na dureza. Mulher brava, dona da venda. Na sua infância o Chico é Enjeitado.
O Manaças, que vive de queijos de cabra e contrabando, arrasta a asa à Chibinha, para lhe ficar com o negócio. Até dá lições de contas e escrita ao Chico. Mas a Chibinha é arisca e corta-lhe o jogo. Um dia vai à terra um engenheiro do Governo explicar porque vão plantar árvores nos baldios. Manaças incita conspiradores: os baldios são do povo é necessário para o pasto das ovelhas.
O engenheiro é estrangulado pelo marido da Severina e outro. São de imediato denunciados à Polícia, pelo próprio Manaças. Chico, criança, testemunhou o assassínio, é ameaçado depois de perseguido.
O Manaças também faz uns servicinhos de armas para fins suspeitos, ao professor da escola. Mas o Manaças, depois da denúncia, fica com certa protecção oficial. Progride. A Chibinha, numa aflição, aceita-lhe um empréstimo em dinheiro.
E assim reviu o Chico a sua infância.
Saiu do rio e do estábulo e foi ao cemitério pôr uma flor no túmulo da Chibinha e recorda, ainda, sua adolescência: as provocações e despeitos da Severina com cio (Chico é o único rapaz); a morte da Chibinha. Antes de morrer ela insinua que é mãe do Chico: ‘O pai. um cão tinhoso que lhe apareceu à noite. Também tivera homem sim, mas quando ela quis’. Num pesadelo, o Chico imagina a noite sexual da Chibinha, imagens que lhe definem a personalidade de ’padeira-de—Aljubarrota’ recalcada e escabreada.
À entrada do povoado o pastorinho, filho de Severina, atira-lhe uma pedrada.
À sombra duma árvore, Chico recorda o namoro com a Tomázia, inocentemente, enquanto Manaças tira proveito das árvores plantadas pelo engenheiro assassinado. Negócio de madeiras: vendia árvores mal queimadas para Espanha pelo mesmo preço, mas paga-as aos donos, vitimas dos fogos, por metade.
Rico, frequenta agora espanholas de Badajoz, e quer comprar a venda ao Chico, pelas notas que a Chibinha lhe devia. Em não querendo, havia de casar a Tomázia com o filho, que era manco mas rico. Em sonhos, Chico assiste à orgia nupcial do Pezinho (filho do Manaças) com Tomázia, numa chuva de leite de cabra.
Recorda o arraial em que arrancou o ‘sim’ à Tomázia. Nessa mesma noite o Manaças prega-lhe uma bebedeira e fá-lo assinar o documento de venda.
Espoliado, o Chico pede socorro ao professor, intelectual de pacotilha, ao advogado que lhe pede dinheiro, para se não meter ‘naquilo’, e ninguém o ajuda contra o Manaças. Este é um homem forte que traz progresso à terra. Chico estiola em amorinhos lunáticos numa taberna em decadência. Nem sequer apaga os ardores da Severina, agora entregue a bruxedos.
Numa noite de desespero, em que só lhe sobra para desabafo o túmulo de D. Afonso, o Chico deita fogo à venda. É acusado e condenado. Tomázia abandona-o e vai para a cidade tentar ser uma senhora. Na cadeia, nem os sonhos são seus. Compartilha-os com dois cadastrados do pior quilate.
Ao chegar ao povoado. o pastorinho dera o alarme. Já não era o enjeitado mas o incendiário que voltava. Por isso ardera ontem o Pinhal dos Nove!
Bode expiatório dos fogos do Manaças, é perseguido pelo povo enfurecido. A Guarda tem dificuldade em defendê-lo. Manaças agora é Presidente da Câmara. O Pezinho transformou a venda em mini-supermercado com electrodomésticos e tudo.
Esconde-se armado.
Manaças intervém e faz um discurso hipócrita ao povo.
Chico apedreja-o. Um tiro vindo da torre da igreja atinge o Chico. Manaças manda pôr o corpo no palheiro e felicita o chefe da Guarda que, todavia, rejeita a autoria do tiro. Também não foi o Pezinho. Enquanto isto, Tomázia, em Lisboa, acaba mal.
Chico, assistido pelo pastorinho arrependido. morre. Alegoria ingénua da morte. em que o mundo foge para as estrelas, nós é que ficamos na terra.
‘Porque morrem as ovelhas e não os lobos da serra?’