A Confederação
SINOPSE OFICIAL: A CONFEDERAÇÃO é uma associação de Estados: imaginária ou talvez não.
Essa associação encontra-se dividida em duas grandes zonas geográficas de influência, o NORTE e o SUL, com exércitos simetricamente próprios.
Encontra-se dividida, também, em duas grandes zonas ideológicas a que correspondem duas cadeias de televisão simetricamente próprias: o Canal Verde e o Canal Vermelho.
A acção desenrola-se num dos Estados integrantes da CONFEDERAÇÃO: um Estado imaginário chamado Portugal.
O tempo em que se desenvolve a acção é concretamente abstracto: Portugal do 25 de Novembro – o seu passado distante, o seu futuro próximo.
Nesse Estado, a TV oficial, cujos jornais televisivos são compostos por amontoados de comunicados oficiais, apresenta um filme intitulado, precisamente, “A CONFEDERAÇÃO”, com o intuito de pelo recurso ao método dos anti-corpos, curar o povo dos desvios esquerdizantes.
Os "falsos" personagens desse filme são Maria e António. A sua "história” é simples. Têm ambos 35 anos, conhecem-se há já longos anos e encontram-se de quando em vez.
António é militar, ocupando o posto de segundo-tenente das Milícias. Vemo-lo, um dia, dirigir-se ao Centro de Mobilização para onde foi convocado, e, em seguida, deixar uma mensagem, em código, a Maria para se encontrarem: "A CONFEDERAÇÃO É UM PEIXE-PODRE"
Maria é técnica especialista das Brigadas Anti-sísmicas. Vêmo-la, no mesmo dia, dirigir-se ao seu local de trabalho e aí receber a mensagem em código, deixada por António: “A CONFEDERAÇÃO É UM PEIXE-•PODRE”.
O encontro dá-se às 10 horas da manhã, no Hotel da Graça. Aí tomam banho, têm relações, dormem, sonham, recordam, imaginam, falam: até ao momento em que, era meio-dia e vinte. António revela a Maria que foi de novo mobilizado para os estados do Sul.
A "simples história" de António e Maria (reflexo subjectivo da crise da pequena-burguesia perdida no meio da tempestade da luta de classes) não é porém, senão o ponto de partida para se introduzirem através dela, e para além dela, os “verdadeiros" personagens do filme: o Estado em que vivem (PORTUGAL) o mundo de que este faz parte (a CONFEDERAÇÃO).
Neste jogo de personagens, "falsos" e "verdadeiros", se irá falando do amor e dos militares, da Operação Branca de Neve e da "vigilância sem rosto", do 25 de Novembro e da felicidade, das crianças e da Rádio Renascença, das guerras justas e injustas, da Mocidade Portuguesa, do Hotel Abrigo e dos abrigos, dos Centros Oficiais de Abastecimento, das bichas de racionamento, da luta de classes e da militarização dos cidadãos, da opressão quotidiana e do trânsito, dos exercícios de alerta e dos bombardeamentos dos “slogans” e da Miraculosa Rainha dos Céus, da invocação a Sta. Bárbara e da mesa da presidência (o juiz, o general e o cardeal), da colónia penitenciária e dos fuzilamentos, de tudo e de nada.
A projecção do filme "A CONFEDERAÇÃO” é aqui e ali, interrompida pelo retomar da emissão de televisão, com os seus comunicados oficiais, as suas desculpas, os seus' canais simétricos, as suas meditações de fim-de-dia.
Mas aqui e ali, um outro filme se anuncia, uma outra história, a HISTÓRIA. Abruptamente, o filme ou a emissão de televisão sofrem interferências de imagens e sons em que se canta e se mostra a luta do povo contra a sua exploração:
CONTRA A FOME É A NOSSA GUERRA
DE VITÓRIA EM VITÓRIA
O POVO É QUE FAZ A HISTÓRIA