Le Bassin de J. W.
SINOPSE OFICIAL: Após uma representação do mistério Coram Populo, que antecede Inferno de August Strindberg, o encenador da peça (Jean de Dieu) encontra a dormitar num bote, que integra um dos cenários (a Terra), um sósia do actor que incarnou a figura de Deus (Max Monteiro). O intruso diz chamar-se Henrique e apresenta-se como um lobo-do-mar na reforma, ocasionalmente de passagem, antes de tentar realizar um velho sonho em que o seu ídolo de infância, John Wayne, mexe maravilhosamente a bacia no Pólo Norte. Deixando Jean de Dieu perplexo, Henrique desaparece tão enigmática e misteriosamente como havia aparecido.
Em casa de Paul e Marianne, um casal amigo de Jean de Dieu, o assunto da conversa é o sonho do velho marinheiro que, como um fantasma, vampiriza progressivamente a identidade dos presentes.
Ao passar numa rua, Jean de Dieu é inesperadamente abordado por Henrique, que acaba de sair de um banco. Num cais do Tejo, abrigados por um chapéu-de-chuva, Jean de Dieu e Henrique partilham um desejo comum: pôr fim aos seus dias. Todavia, antes de tomarem a fatal decisão, resolvem dar ainda uma volta pela cidade e passar a noite num cabaret, onde à fauna tradicional se junta uma frequência infantil e um grupo de delinquentes de índole nazi-fascista. Finda a noitada, regressam ao cais e procuram um lugar julgado bom para se matarem. Conforme o prometido, Henrique deita-se finalmente a afogar. Jean de Dieu afoga o desgosto ao balcão de uma taberna e julga ver uma aparição de Henrique. Trata-se na realidade de Max, desgostoso por ter sido enganado pela mulher.
A tertúlia em casa de Paul e Marianne é dominada pela lembrança do funesto evento da véspera. Catarina, uma jovem amiga do casal, oferece os seus préstimos, que não são parcos, a um inconsolável Jean de Dieu.
Paul conta um sonho que retoma o périplo lisboeta de Henrique e Jean de Dieu, introduzindo-lhe o encontro com Ariane, uma jovem que vende rosas numa carroça amarela puxada por um burro (Lúcio).
Paul, representando o papel de Henrique, Catarina, o de Ariane e Jean de Dieu, o seu próprio, ensaiam o relato da viagem através dos mesmos lugares, até ao abandono de Ariane e ao duplo suicídio de Henrique e Jean de Dieu.
Ao balcão da taberna, Jean de Dieu e Max embebedam-se. Paul aparece, segreda qualquer coisa ao ouvido de Jean de Dieu e acompanha-os nas libações. Jean de Dieu visita Marianne. Esta anuncia-lhe que Paul partiu por ter sonhado que John Wayne mexia maravilhosamente a bacia no Pólo Norte. Os zurros de um burro, vindos do televisor, chamam-lhes a atenção Catarina, tornada Ariane, e Henrique, aliás João de Deus, recém-casados e acompanhados por Lúcio, aliás Luciano, são entrevistados quando preparam a partida para o Pólo Norte. Marianne convida Jean de Dieu para, também eles, mexerem maravilhosamente a bacia no Pólo Norte. Jean de Dieu não vê inconveniente, mas não quer ouvir falar mais no Pólo Norte.
João de Deus e Ariane, montada em Luciano, iniciam a longa caminhada para o Pólo Norte, enquanto a Wermacht, como num mau sonho, desfila em sentido inverso.
A oeste nada de novo.
João César Monteiro