Bárbara
SINOPSE OFICIAL: Era o sonho de uma vida, este do luso-americano Joe Valente: fazer passar a apanha do moliço da fase artesanal à industrial e simultaneamente promover a dragagem intensiva da Ria de Aveiro, de cujas margens partira décadas atrás para a costa oriental dos Estados Unidos.
Era uma reportagem apenas curiosa para Filipe, jornalista de “A Folha”, que iria ver de perto a draga “Barbara” cumprir os planos de Joe Valente e coligir elementos para um texto pormenorizado com muito “sabor local”. Mas ao sair de Lisboa ele ainda não sabia que a draga tinha esse nome inesperado, sugerido ao luso-americano pelo da actriz Barbara Stanwyck, nem que uma outra mulher, esta viva e próxima, cruzaria os seus passos: Linda filha do proprietário do barco.
A chegada de Filipe à Ria de Aveiro coincidiu com a bênção e entrada em funções da “Barbara”, contestadas ambas por um grupo de jovens aparentemente sensíveis à consequência mais imediata da “operação” – a liquidação da safra artesanal. Apenas a lavoura, logicamente beneficiada pelo maior volume e pelo mais baixo preço do moliço “industrial”, mostrou apoiar a todo o momento a ideia de Joe Valente. Num primeiro momento as tripulações dos barcos moliceiros não tiveram clara percepção do que sucederia, mas rapidamente o seu desespero foi palpável ao jornalista. Só o moliço da “Barbara” era vendido agora à beira-ria. Donos de inúteis “barcadas”, os homens dos moliceiros deitavam contas à vida e concluíam que a miséria lhes entrava em casa.
Que pode pensar de tudo isto uma jovem luso-americana de segunda geração, entusiasmada com a iniciativa do pai, gozando da liberdade de conduzir o seu “buggy” novo em folha por estradas de pouco trânsito, em meio de uma paisagem muito bela, quase “selvagem”? Para Linda o único problema parecia ser o de ocupar o melhor possível um tempo de férias em que o “flirt” casual avolumasse as boas recordações. Foi aqui que tudo se lhe complicou: Filipe, jornalista de Lisboa, abriria os olhos da luso-americana para a dura realidade da Ria de Aveiro, onde as populações ribeirinhas subsistem num dia-a-dia difícil. A ternura nascida entre ambos, que os aproximava, trazia também o risco de o mundo fechado de Linda ruir de uma hora para a outra.
Surdo às crescentes mostras de descontentamento dos homens dos moliceiros, Joe Valente trabalhava com a draga e ia vendendo o moliço “industrial” às toneladas. Nada terá sabido de uma reunião no teatro da vila, em que os primeiros sintomas da crise se delinearam
Do mesmo modo foi alheio a uma segunda e mais agressiva assembleia, agora num armazém de peixe. Arde uma seara. Movimentam-se forças populares. A Igreja interroga-se sobre o perfil do “progresso” trazido pelo luso-americano. Este, nas horas de ócio, vê infatigavelmente trechos de filmes da sua actriz preferida. Está obcecado pela “Barbara”. Um adjunto vai-o pondo ao corrente das safras diárias, que ele “comanda” da amurada da draga com o orgulho do “almirante” promovido por conta própria. Sente-se feliz.
A violência porém, espreita o sonho ingénuo de Joe Valente. E é nas águas da Ria que vai jogar um final de fábula cruel, à medida da impotência transformada em raiva.