A Morgadinha de Val-Flor
Beiras, último quartel do século XVIII. Numa casa onde vivem Leonardo, antigo caseiro de D. Teresa Leocádia Coutinho (viúva e Morgada de Val-Flor), Mariquinhas, sua filha, ingénua e casadoira, e Luís, sobrinho de Leonardo, pintor recém-chegado de Lisboa (para onde foi com dez anos) e de Paris, desenrola-se um romance entre os dois jovens que Leonardo quer consumar rapidamente em matrimónio. Luís, politicamente um liberal e conservador em matéria de costumes, pinta um retrato da prima enquanto a namora e vai tecendo comentários acintosos sobre a aristocracia em geral e sobre Leonor, a Morgadinha, que não conhece. Leonardo e a filha vivem muito confortavelmente de uma herança de um tio no Brasil, o que lhe permitiu abandonar o lugar de caseiro e a Luís ter ido estudar para Lisboa.
Num dia invernoso batem à porta, Luís vai abrir e é um jovem com aspecto aristocrático com quem Luís começa a tecer comentários sarcásticos contra a nobreza – a que ele reage de forma exaltada. Na realidade não é um jovem, mas a Morgadinha trajando vestes masculinas – mas não revela a sua identidade. Leonardo chega e desfaz o equívoco, Luís fica embaraçado para gáudio de Leonor.
Um mês depois, Luís está no solar a pintar a capela por encomenda da Morgada. Leonor e Luís continuam com uma relação tensa, irónica e provocatória – ambos de casamento encomendado, ambos com primos – mas Luís está cada vez mais enfeitiçado pela Morgadinha. D. Teresa Coutinho revela satisfação pelo talento de Luís e porque ele sabe o seu lugar na sociedade, não aspirando a mais que o que deve – o que desperta sentimentos de orgulho ferido no rapaz.
No solar aparece também Frei João Inácio, bem falante e hipócrita, que acha um perigo a Morgadinha ter lido tantos livros, interessar-se pelos clássicos e querer ver teatro, já que a uma mulher de virtude convém ‘aprender o menos possível’. E surge também Pedro Paulo, Capitão-Mor das Milícias, irmão de D. Teresa, que sabe ler mas não pratica e defende a memória do Marquês de Pombal contra a irmã, apaniguada de D. Maria I. E de Lisboa chega Rodrigo, capitão de cavalaria ao serviço da Rainha, empertigado e autoconvencido, filho de Pedro Paulo e prometido da Morgadinha. Vem à festa de aniversário da Morgada. Pedro Paulo contrata um poeta, Bernardo, para fazer e recitar versos em homenagem à Morgada. Luís perde, entretanto um papel contendo versos reveladores do seu amor pela Morgadinha que, encontrado por Pedro Paulo, é tomado como sendo de Bernardo. Mas Leonor percebe que não. E, apesar de voltar a implicar com Luís, diz para si mesma que ama aquele homem.
Festa na aldeia. Folia nas ruas. Mas Luís e Leonor há tempos que andam misantropos, deixaram de comer, tristes e meditabundos, cada um para seu lado. E já não falam nos respectivos casamentos – toda a gente anda preocupada. Encontram-se por acaso no adro da igreja, confessando mutuamente o seu grande amor. Contudo, Leonardo acaba por convencer Luís das diferenças de classe que o separam de Leonor e da crueldade com que está a tratar Marquinhas.
D. Teresa Leocádia e Luís encontram-se no solar. Ele informa a Morgada de que vai cumprir as leis da família e da sociedade e casar com Mariquinhas, para regozijo da senhora. Todavia, troca argumentos e insultos com Rodrigo – e desafia-o para um duelo. Rodrigo recusa, pois não se bate com um homem que não é da sua condição. Mas o duelo acaba por ocorrer, saindo Luís gravemente ferido. Mariquinhas trata dele com desvelo, a Morgadinha quando sabe do seu estado, corre a vê-lo. Luís morre nos braços de Leonor.