Cântico Final
SINOPSE OFICIAL: “Cântico Final”, extraído do romance de Vergílio Ferreira, conta-nos a história dos últimos meses de vida dum pintor vítima dum cancro. Originário duma família da pequena burguesia duma aldeia, ele dirige-se a Lisboa onde entra no mundo das artes e das letras. Frequenta os círculos intelectuais, mergulha na discussão estéril dalguns grupos a tal ponto que mal procura realizar-se através da sua arte.
Todavia, um apelo, dum certo materialismo rústico, fá-lo vacilar na procura incessante da verdade e na agonia desesperada, da despedida que integra o homem na sua dimensão, onde a humildade e o absoluto são sinónimos. A grandeza da luta e do sofrimento é a sua maior aspiração, aquela que compreende o homem, na sua integridade.
O pintor apaixona-se por uma dançarina ao fixar o seu retrato, e tenta decifrar a filosofia suprema do corpo temporal que ela defende, em contraste coma força da imortalidade do espírito com que ele sonha.
Entretanto, surpreendido pela doença súbita e implacável, ele renuncia ao amor, aos meios culturais de Lisboa, aos amigos, à sua arte, até à vida.
É um vencido que se refugia na obsessão da morte. Ele refugia-se na sua aldeia natal a fim de se interrogar a fundo e de mergulhar na obscuridade dos seus sentimentos e das suas recordações. As crises do 'cancro sucedem-se e, sentindo chegar-se o fim, num último élan, adquire uma capela em ruína e pinta-a, deixando assim o requiem da sua vida exprimir-se através da sua arte. O tema da vida breve e da morte incompreensível são a sua maneira de dialogar com os deuses ou com Deus na sua última obra. Ele morre, ciumento da vida que deixa e que recorda a todos O'S momentos, e frustrado perante o seu fim para o qual não encontra uma explicação.
Nos últimos momentos de delírio ele revê O'S amigos, o amor, as injustiças sociais, o substracto único do homem que parte só. Todavia a última imagem da película, é um grito de esperança reflectido num campo de malmequeres exposto a constantes flashbacks e brilhando sob a forte luz do Sol.
“Cântico Final” é um filme desesperado, narrado em contínuos flashbacks, começando com o regresso do protagonista à sua aldeia e ao qual o director Manuel Guimarães deu o melhor da sua vida e que - por estranha ironia - acaba por ser bizarramente autobiográfico visto que ele mesmo não o conseguiu terminar vítima da mesma doença que sucumbiu o protagonista, o pintor.
“Nossa Senhora dos impossíveis que procuramos em vão”, um verso de Fernando Pessoa, é o lema final deste filme e de uma vida.
Dórdio Guimarães